A gestão de combustíveis é um dos principais desafios para administradores de frotas de veículos leves. A escolha entre etanol e gasolina pode impactar significativamente os custos operacionais, o desempenho dos veículos e até mesmo a sustentabilidade ambiental. Este artigo explora os principais aspectos técnicos e econômicos dessa decisão, com foco em como administradores de frotas podem otimizar sua estratégia de abastecimento.

 1. Características do Etanol e da Gasolina

 1.1 Etanol

O etanol, também conhecido como álcool etílico, é um biocombustível produzido principalmente a partir da cana-de-açúcar no Brasil. Suas principais características incluem:

– Renovabilidade: O etanol é considerado um combustível renovável, pois é produzido a partir de biomassa.

– Menor emissão de CO₂: A queima do etanol emite menos dióxido de carbono, contribuindo para a redução do impacto ambiental.

– Maior octanagem: O etanol possui uma octanagem maior que a gasolina, o que melhora a eficiência da combustão.

 1.2 Gasolina

A gasolina, derivada do petróleo, é um combustível amplamente utilizado devido à sua densidade energética e fácil disponibilidade. Suas principais características incluem:

– Alta densidade energética: A gasolina fornece mais energia por litro em comparação ao etanol.

– Maior autonomia: Veículos abastecidos com gasolina percorrem maiores distâncias antes de necessitar de reabastecimento.

– Emissão de poluentes: Apesar dos avanços em combustíveis aditivados, a gasolina ainda gera mais gases de efeito estufa que o etanol.

 2. Custo por Quilômetro Rodado

 2.1 Comparação de Preços

O preço do etanol costuma ser mais baixo que o da gasolina, mas a eficiência energética também precisa ser considerada. Em geral, veículos leves consomem cerca de 30% mais etanol do que gasolina para percorrer a mesma distância.

Fórmula prática para tomada de decisão:

Se o preço do etanol for até 70% do preço da gasolina, ele é a escolha mais econômica. Por exemplo:

– Preço da gasolina: R$ 6,00/litro

– Etanol é vantajoso se custar até: R$ 4,20/litro (70% de R$ 6,00).

Efeitos da compressão do motor:

Apesar dos carros flex serem capazes de operar tanto com o Etanol quanto com a Gasolina, há um compromisso que os fabricantes fazem na taxa de compressão do motor, de forma que alguns veículos dão uma performance melhor no Etanol do que na Gasolina e vice versa.

O ideal é avaliar o consumo médio do seu veículo nos dois combustíveis para identificar qual a diferença de rendimento e aplicar a fórmula acima conforme essa diferença.

Alguns motores dão uma diferença de apenas 15% entre os dois combustíveis, por exemplo.

Efeito da mistura de Etanol na Gasolina

No Brasil, o governo define uma mistura de etanol na gasolina para regular os preços e a demanda. Essa mistura varia de 15 a 25% de etanol, isso acaba reduzindo a capacidade energética da gasolina e interfere no cálculo da diferença entre os dois combustíveis.

A análise do consumo médio dos veículos é a forma mais adequada de saber a diferença de performance e calcular qual combustível é mais vantajoso.

Efeito da sazonalidade e variações cambiais

O Brasil faz colheita de cana de açúcar durante todo o ano, exceto no verão. Entre os meses de Dezembro a Março é a entressafra e os preços do etanol sobem bastante. Além da entressafra o álcool é um commodity com preços globais de forma que os seus preços variam com a taxa de câmbio (assim como a gasolina).

Outros fatores que também influenciam os preços são uma possível quebra de safra (levando os preços para cima), ou uma super safra (levandos os preços para baixo), e o valor do açúcar, pois os usineiros, até certo ponto, podem produzir mais açúcar e menos álcool, e vice versa, conforme o que for mais vantajoso.

Efeito dos diferentes tipos de postos de gasolina e condições de pagamento

No Brasil os preços dos combustíveis ao consumidor final não são tabelados de forma que variam livremente, há muita diferença entre os postos de combustível.

Alguns postos que ficam em áreas mais movimentadas tem custos muito mais acessível, alguns postos que não tem bandeira (bandeira branca), tem custos menores, mas é necessário avaliar se a qualidade do combustível é adequada.

Algumas redes de postos fazem acordos com o frotista e negociam uma condição mais barata, pode ser uma boa alternativa para reduzir os custos e garantir a qualidade do abastecimento.

Por fim, há postos que dão descontos expressivos para pagamento a vista (no Pix), são condições de mercado que varia constantemente, fique atento às oportunidades para reduzir os seus custos.

 2.2 Dados de Mercado

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em dezembro de 2024, a média de preços no Brasil era:

– Gasolina: R$ 5,90/litro

– Etanol: R$ 4,10/litro  

A relação média entre os combustíveis foi de 69%, mostrando que o etanol é frequentemente vantajoso para a maioria das regiões brasileiras.

 3. Impactos na Manutenção da Frota

 3.1 Veículos Flex

A maioria dos veículos leves no Brasil é equipada com motores flex, permitindo o uso de etanol, gasolina ou uma mistura de ambos. Contudo, o tipo de combustível afeta a manutenção:

– Etanol:  

  – Pode gerar maior acúmulo de resíduos nos bicos injetores.

  – Exige maior frequência de manutenção do sistema de ignição devido ao maior teor de água no combustível.

  – É menos corrosivo para peças metálicas que combustíveis de má qualidade.

– Há um mito de que o etanol limpa o motor, isso não é comprovado.  Utilize o combustível de acordo com o seu custo e performance do motor com a fórmula que passamos acima.

– Em dias frios, o Etanol demora um pouco mais para dar toda a performance até o motor chegar a temperatura normal de operação. Pode haver um desgaste maior no sistema de arranque por conta disso.

– Tanque para o arranque do motor. Alguns veículos possuem um pequeno tanque de 2 a 5 litros, com gasolina que é injetada durante a partida para facilitar o processo de arranque especialmente nos dias frios. Como é pouco utilizado, essa gasolina fica muito tempo parada e pode se transformar em um gel causando o entupimento dos bicos injetores. Procure sempre abastecer este tanque com gasolina aditivada, pois os aditivos reduzem esse risco e programe para esvaziar este tanque e substituir toda a gasolina pelo menos uma vez por ano.

– Gasolina:  

  – Emite mais resíduos de carbono, o que pode afetar o sistema de escape e válvulas.

  – Aditivos presentes na gasolina podem reduzir o acúmulo de sujeira, mas o impacto depende da qualidade do combustível.

Gasolina e Álcool aditivados

-Segundo a Raízen o abastecimento com combustível aditivado deve ser feito pelo menos a cada 3 tanques. Um motor com acúmulo de sujeira pode causar um aumento de consumo de até 5%, Abastecer com combustível aditivado mais frequente do que a cada 3 tanques, no entanto, não vai melhorar a performance.

 3.2 Vida Útil do Motor

O uso prolongado de etanol ou gasolina não causa danos significativos aos motores flex quando o veículo é mantido adequadamente. No entanto, o manual do fabricante deve ser consultado para identificar recomendações específicas.

 4. Sustentabilidade e ESG

 4.1 Emissões de Carbono

De acordo com o Ministério de Minas e Energia (MME), o uso de etanol reduz as emissões de CO₂ em até 90% em comparação à gasolina. Para empresas comprometidas com práticas ESG (Ambiental, Social e Governança), essa diferença é crucial para alinhar operações com metas ambientais.

 4.2 Produção e Impactos Ambientais

– Etanol:  

  – O cultivo da cana-de-açúcar promove a captura de CO₂ durante o crescimento das plantas.  

  – No entanto, práticas inadequadas, como desmatamento ou uso excessivo de fertilizantes, podem mitigar esses benefícios.

– Gasolina:  

  – A extração e o refino do petróleo são processos altamente poluentes, com emissões de metano e CO₂.  

  – O uso intensivo de gasolina é menos alinhado com metas de sustentabilidade.

 5. Estratégias de Gestão de Combustíveis

 5.1 Monitoramento de Consumo

O uso de tecnologias de telemetria permite monitorar em tempo real o consumo de combustível da frota. Isso possibilita:

– Identificar desvios de padrão no consumo.

– Planejar rotas mais eficientes.

– Estabelecer metas de economia de combustível.

– Monitorar o consumo do veículo para cada tipo de combustível.

 5.2 Planejamento de Abastecimento

Empresas podem negociar diretamente com fornecedores de etanol ou gasolina para obter melhores condições de preço. Além disso, programas de fidelidade em postos de combustíveis podem gerar economias adicionais.

 5.3 Treinamento de Motoristas

O estilo de condução influencia diretamente o consumo de combustível. Acelerações bruscas, frenagens excessivas e altas velocidades aumentam o gasto. Treinamentos podem reduzir o consumo em até 20%, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT).

 5.4 Monitoramento do perfil de condução

Utilizando a telemetria, você pode identificar o perfil de condução dos seus motoristas, definir indicadores de performance e treinar eles para uma condução mais econômica.

Os indicadores mais usados são a aceleração e freada brusca, o pedal do acelerador e o giro do motor, bem como a identificação de marcha lenta excessiva quando o veículo fica parado com o motor ligado por mais do que 5 minutos.

Aliado a um program de benefícios, a telemetria pode trazer economias substanciais a sua frota, além de contribuir com o meio ambiente.

 6. Considerações Econômicas e Fiscais

 6.1 Incentivos Fiscais

O etanol tem incentivos tributários no Brasil, como alíquotas menores de ICMS em muitos estados. Isso pode reduzir ainda mais os custos para empresas que priorizam esse combustível.

 6.2 Impostos sobre a Gasolina

A gasolina está sujeita a impostos mais elevados, como PIS/Cofins e CIDE, que aumentam seu custo final. Empresas devem considerar esses fatores ao projetar custos operacionais.

 7. Conclusão

A escolha entre etanol e gasolina para frotas de veículos leves deve ser baseada em uma análise técnica e econômica, considerando fatores como custo por quilômetro, impacto ambiental e necessidades específicas da frota. O etanol frequentemente apresenta vantagens econômicas e ambientais, mas exige uma gestão rigorosa para maximizar os benefícios.

Empresas que utilizam ferramentas de telemetria, planejam rotas otimizadas e investem em treinamento de motoristas podem alcançar uma economia significativa, independentemente do combustível escolhido, mas também é uma ferramenta essencial para saber qual o combustível mais adequado, pois permite avaliar a performance dos veículos para cada tipo de combustível e, assim, tomar uma decisão mais assertiva a cada abastecimento.

Por fim, a adoção de práticas sustentáveis na gestão de combustíveis pode ser um diferencial competitivo e alinhado às demandas de um mercado cada vez mais voltado à sustentabilidade.

 Referências

1. Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)

2. Ministério de Minas e Energia (MME)

3. Confederação Nacional do Transporte (CNT)

4. Relatório Anual da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA)

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